Bruna Oliveira, 16 anos
Há três anos que só ia à escola esporadicamente, às vezes uma vez por semana, nas piores alturas uma a cada mês. Deixou praticamente de andar, porque não conseguia pousar o pé ou sequer tocar no joelho. E chorava. Muito. As dores eram tão insuportáveis que também não conseguia dormir. “Desesperada, pedia-me para ir para o hospital: aquelas duas, três horas em que lhe davam medicação, eram as únicas em que descansava”, conta à SÁBADO Ana Paula, mãe de Bruna Oliveira, de 16 anos. A adolescente só queria estar na cama, engordou muito – chegou aos 90 quilos com pouco mais de 1,60 metros – e deixou de se ver ao espelho. Só resistia fortemente medicada e estava deprimida: dizia que preferia morrer, que lhe cortassem a perna, queria esmagar o seu joelho.
Quando, em Maio de 2016, ao fim de apenas três tratamentos de ozonoterapia, Bruna conseguiu tocar no joelho esquerdo, a modesta conquista pareceu-lhe um milagre. Razão: desde os 10 anos que sofria de uma dor crónica e insuportável. Foi depois de um acidente tolo na escola, estava a fazer o pino, um colega atirou uma mochila, atingiu-a e ela bateu com o joelho no chão. As queixas começaram e nunca se resolveram.
Nos últimos seis anos, fez três artroscopias do joelho (intervenção cirúrgica, por laparoscopia, à estrutura interna de uma articulação), experimentou injecções de corticóides, frequentou a consulta da dor e também fez acupunctura. Nada resultou. A médica que a seguia no Hospital da Estefânia dizia que ela tinha o joelho “de uma pessoa idosa” – sem cartilagem nem músculo. Chegou a um ponto em que já não restavam alternativas senão uma cirurgia de joelho aberto (desaconselhada para uma pessoa da sua idade) ou colocar uma prótese (ainda pior, ao fim de 15 anos estaria numa cadeira de rodas).
Ana Paula descobriu a terapêutica com ozono através de um artigo no jornal. A filha estava tão descrente que nem queria experimentar. Mas a mãe insistiu. Fez 12 sessões seguidas, aos sábados: ao fim de três, já conseguia tocar no joelho; depois da sexta, a dor que tinha melhorou 50% e, agora, terminado o tratamento, “já não a consigo sequer manter em casa”, diz a funcionária dos correios. Deixou de tomar medicação para dormir, só mantém o antidepressivo e está a aproveitar a adolescência que não chegou a viver: “Arranja-se e conquista uma coisa nova a cada dia: ‘Mãe, já consigo dançar’, disse-me há dias.”
O que é a Ozonoterapia?
A ozonoterapia é uma terapêutica com ozono, uma molécula composta essencialmente por oxigénio, mas com uma diferença: enquanto o oxigénio que se respira é composto por dois átomos, o ozono tem três. “É a mesma coisa que colocar uma gasolina de avião num carro”, compara o enfermeiro Pires Santos, responsável clínico do Centro de Ozonoterapia, em Linda-a-Velha.
Em que pode ser usado?
O tratamento pode ser usado em mais de 200 doenças, incluindo problemas circulatórios, feridas, dor crónica, doenças reumáticas, dermatológicas, ortopédicas ou infecciosas.
Até na estética, para a eliminação de celulite ou para as estrias, “porque estimula a regeneração celular e a produção de colagénio e de ácido hialurónico”, diz.
Porque é tão bem recebido no organismo? Porque é oxigénio e muitas doenças estão relacionadas com um défice de oxigénio. No caso de Bruna Oliveira, o ozono funcionou como anti-inflamatório e analgésico – as suas principais propriedades – e também potenciou a auto-regeneração dos tecidos do joelho. “De forma simplista, o ozono tende a puxar tudo para a normalidade”, traduz.
Potencial para tratar o Cancro
Mesmo no cancro, admite-se que esta terapêutica dita complementar possa ter um papel. Sabe-se que as células tumorais manipulam a seu favor o sistema imunitário, resistindo aos tratamentos de quimioterapia e radioterapia. “A hipoxia [diminuição de oxigénio no sangue] é o principal factor de radio-resistência”, diz o especialista em oncologia médica Diogo Alpuim Costa. “Se pensarmos que o oxigénio hiperbárico, assim como o ozono, reverte esta situação – aumentando a disponibilidade de oxigénio ao nível dos tecidos e tornando o tumor mais susceptível aos tratamentos -, então há potencial no tratamento da doença”, afirma o profissional, que trabalha no Centro de Medicina Hiperbárica e Subaquática, em Lisboa.
O oxigénio também ajuda à regeneração dos tecidos. Pires Santos tratou recentemente um homem de 50 e poucos anos com um tumor intestinal. O empresário, quadro superior de uma empresa, fora operado mas, além do cancro, tinha uma úlcera gástrica e uma inflamação crónica do intestino. Estava dependente da medicação e continuava com hemorragias. “Desde que está a fazer os tratamentos com ozono, a úlcera cicatrizou por completo e a inflamação desapareceu. O médico que o seguia até lhe disse: ‘Se eu não o conhecesse, diria que nunca teve problema algum'”, conta à SÁBADO. Há uma explicação simples para esta recuperação espectacular: “As lesões são zonas com pouco oxigénio”, aponta Diogo Alpuim Costa.
Contudo, este tipo de terapêuticas está sujeito a alguma polémica. “Comparando com a imunoterapia [uma terapêutica muito cara e dos avanços mais promissores das farmacêuticas], o oxigénio também é um fármaco mas é bem mais barato”, aponta o oncologista.
A ozonoterapia tem outro problema: não há estudos científicos que comprovem a eficácia do tratamento, a evidência é clínica. Ou seja, são os casos de recuperação que, para já, o legitimam.
Maria José Assunção, 69 anos
Que o diga Maria José Assunção, 69 anos, com uma doença auto-imune chamada síndrome de Raynaud – que afecta a circulação sanguínea nas extremidades.
Mesmo sujeita a uma média de 12 comprimidos diários, entre os quais de cortisona, a antiga professora continuava a ter as mãos completamente negras de tão cheias de feridas. As úlceras impediam-na de fazer coisas tão simples como malha, para preparar o enxoval dos afilhados, entalar os lençóis da cama ou pegar no secador para arranjar o cabelo, diz. Com a ozonoterapia, que complementa a medicina convencional, deixou de ter os pés e as mãos frias (tão geladas que às vezes assustavam as pessoas que a cumprimentavam), ficou sem úlceras e sente menos dor.
É como tomar um comprimido
Apesar de a terapia não estar regulamentada, há uma portaria que determina as comparticipações de tratamentos de ozonoterapia no Sistema Nacional de Saúde, definindo-a como um “procedimento analgésico ou anestésico para o tratamento da dor” (nº 163/2013 de 24 de Abril).
Ao Centro de Ozonoterapia em Linda-a-Velha chegam sobretudo situações de dor lombar e nas articulações, joelho e ombro. Mas não há garantias: o ozono não resulta com toda a gente, nem é uma cura, ressalva o enfermeiro Pires Santos. É preciso fazer uma espécie de manutenção. “A lógica é a mesma dos comprimidos: um hipertenso toma todos os dias a medicação para a tensão arterial porque, se a deixar, o efeito do fármaco passa ao fim de dois ou três dias. O efeito do ozono dura mais tempo, mas nas doenças crónicas é aconselhável fazer-se uma sessão todos os meses”, diz.
Tiago Oliveira, 37 anos
Apesar de ter experimentado o tratamento que compara ao “doping dos ciclistas” (pela maneira como o faz sentir), Tiago Oliveira, 37 anos, sabe que a sua doença não desapareceu. “Só melhorou a capacidade de repouso e recuperação”, diz.
O gestor administrativo de uma empresa de transportes e logística sofre de fibromialgia e, no início do ano, a doença deixou-o praticamente incapacitado: começou por ter dor na coluna, depois passou para o fundo das costas, para os membros inferiores e por fim para os superiores. “Para me sentar no sofá parecia que tinha engolido um garfo, não conseguia fazer gestos simples como pegar nos sacos das compras, ou até em chaves, e aquilo que dormia, dormia mal”, descreve. Nem com a medicação (um relaxante muscular e anti-inflamatório em SOS), uma mudança no estilo de vida (andava 1h por dia) e na alimentação, massagens terapêuticas e reiki, as melhorias foram permanentes.
Em meados de Junho, decidiu experimentar a ozonoterapia e, desde então, só precisou de tomar anti-inflamatório duas ou três vezes, conta. “Sinto menos dores, menos cansaço e mais energia. Tanta que a minha avó me diz: ‘Tu não podes fazer mais isso, andas eléctrico.'”
Artigo publicado originalmente na edição 647 da SÁBADO, de 22 a 28 de Setembro
Fonte: sabado.pt